"Jesus Cristo é expressão da vontade do Deus supremo "
Numa altura em que os católicos celebram a Páscoa, o DN foi saber como se enquadra uma minoria religiosa, a comunidade hindu, neste tipo de festejos. E que "pontes" podem ser estabelecidas entre as diferentes religiões.
Como é vivida a Páscoa na comunidade hindu. É festejada? Têm eventos próprios que coincidem com estas datas?
Não celebramos a Páscoa, mas temos dois festejos que podem ou não aproximar-se deste período, porque o nosso calendário é lunar e não coincide com o calendário solar (gregoriano). Um deles é o Ranmani, que este ano se assinalou a 3 de Abril. O outro é o Hanumanjayanti, que celebrámos na última sexta-feira, numa cerimónia que encheu o nosso templo de Telheiras.
O que assinalam esses festejos?
O Ramnami é a data da vinda de Shri Ram, a sétima aparição do divino na Terra. A nossa mitologia prevê dez aparições, que só acontecem em alturas muito precisas, por exemplo quando existe uma ameaça muito forte à fé. Normalmente, o divino não intervém. Acreditamos que já se registaram nove aparições, quatro delas antes de o homem viver na Terra. A décima acontecerá quando o ser humano já estiver na era da automatação, para a qual já nos estamos a encaminhar.
E o Hanumanjayanti?
Refere-se a Hanumanji. O termo "humano" terá derivado desta palavra. Para nós, Hanumani é o verdadeiro habitante da Terra. Um dos nossos antepassados terrestres. É um homem, mas a sua forma ainda não é a do homem moderno. Será aquilo que a ciência descreve como o antecessor do homo sapiens. É um seguidor de Shri Ram.
Jesus Cristo pode ser enquadrado à luz destas aparições?
Não como uma das dez aparições do hinduísmo. Mas nós olhamos para a aparição de Jesus Cristo como uma expressão da vontade do Deus supremo. O hinduísmo é a única religião que, na diáspora, não tem episódios de tentativa de conversão de outros povos. Aliás, a imposição da religião é proibida. E isso acontece porque acreditamos que o divino se manifesta em circunstâncias diferentes, de época para época e de povo para povo.
Todas as manifestações do divino são válidas, é isso?
Sim. Além das dez aparições do hinduísmo, estão previstos 33 milhões de aparições. E reconhecemos a cada uma delas a mesma importância que atribuímos às nossas. Para nós, a Nossa Senhora de Fátima é uma manifestação única. Não a relacionamos com outras aparições, como a Senhora de Lurdes.
No catolicismo, festas como a Páscoa e o Natal, são associadas a troca de presentes, a desfiles e comemorações. Os hindus também têm essas tradições?
Nós somos portugueses de origem hindu, por isso, além da nossa religião também somos um reflexo da comunidade em que vivemos. Mas a nossa única festa em que há troca de prendas, decorações, postais de felicitações é o Diwali. É uma festa muito importante, também conhecida por festa das luzes, porque simboliza a transição do período de obscuridão para a luz. Acontece normalmente entre o final de Outubro e o início de Novembro, e prolongamo-la até ao Natal, porque as duas celebrações partilham esse espírito de alegria, misericórdia e compaixão.